Muito além da linha de chegada: o esporte como caminho para a aprendizagem
texto de Caroline Costa, Atleta e Analista de Dados do Colégio Carbonell
Toda linha de chegada tem uma história. Cada conquista é resultado de um processo marcado por esforço, superação, disciplina e recomeços. Valorizar esse caminho é tão importante quanto comemorar o resultado — e é nesse percurso que encontramos oportunidades reais de aprendizagem.
Essa visão está diretamente conectada ao chamado mindset de crescimento, uma mentalidade que reconhece que habilidades e competências não são estáticas, mas podem ser desenvolvidas com prática, dedicação e persistência. Quando um estudante se envolve com a prática esportiva, ele vivencia essa experiência concretamente: compreende que o progresso exige disciplina, foco, atenção, gestão do tempo e, principalmente, constância. Ao mesmo tempo em que o corpo se movimenta, a mente se fortalece — e isso impacta diretamente a forma como o estudante aprende, enfrenta desafios e constrói sentido sobre o próprio desenvolvimento.
Evidências reunidas na pesquisa “Artes e Esportes: Relação com o Desenvolvimento Humano Integral” realizada pelo Itaú Social destaca que a atividade física estimula o funcionamento do córtex pré-frontal do cérebro, aumentando a concentração de dopamina e fortalecendo funções executivas como atenção, memória de trabalho e controle inibitório — todas fundamentais para o processo de aprendizagem. Além disso, a pesquisa também mostra que o esporte favorece o desenvolvimento de habilidades cognitivas e socioemocionais, como persistência na realização de objetivos, disciplina, comunicação eficaz, foco e trabalho em equipe.
Em esportes cooperativos, por exemplo, é comum que os estudantes mudem sua forma de enxergar a competição. Um estudo com crianças de oito anos nos Estados Unidos, conduzido por Layne e Hastie (2016), mostrou que, “ao invés de ser ‘vencer’ o único objetivo, um dos resultados foi conseguir que as crianças passassem a ver como um de seus objetivos fazer bem suas atividades”. Há uma mudança de foco de resultados finais para resultados incluindo a qualidade dos processos” e ao vivenciar experiências de colaboração, elas passaram a compreender que “fazer bem o que precisa ser feito” pode ser mais importante do que simplesmente vencer. Essa mudança de foco — do resultado final para a qualidade do processo — é exatamente o que buscamos ao falar de aprendizagem significativa e duradoura.
Pessoas engajadas em atividades esportivas tendem a apresentar melhor organização da rotina, tem uma maior regularidade no cumprimento de tarefas, equilíbrio emocional e maior capacidade de lidar com frustrações. Esses resultados não surgem por acaso — refletem a influência positiva de hábitos desenvolvidos com constância e propósito, que se estendem a todas as áreas da vida.
Incentivar a prática esportiva na escola não é apenas promover saúde ou bem-estar. É abrir espaço para que os estudantes se desenvolvam por inteiro: corpo, mente e emoções em movimento constante, em um processo de formação que ultrapassa os muros da escola e os prepara para os desafios da vida.
