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sexta-feira, 12/09/2025.
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➗ Leia texto da Professora Aline Costa sobre alfabetização e letramento matemático

Alfabetização e Letramento Matemático: mais do que números e símbolos, uma forma de estar no mundo
texto de Aline Costa, Professora dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental

No nosso dia a dia, é muito comum associarmos o processo de alfabetização apenas à leitura e à escrita. Aprender a reconhecer letras, formar sílabas, decodificar palavras. Tudo isso faz parte da alfabetização. No entanto, ser alfabetizado não é o mesmo que ser letrado.

A alfabetização nos ensina a “ler e escrever”, mas o letramento vai além. Ele nos possibilita compreender, interpretar e agir a partir da leitura do mundo. Uma pessoa pode saber ler frases inteiras, mas se não entende o que elas dizem ou o que significam dentro de um determinado contexto, ainda não está letrada. O mesmo acontece na Matemática: podemos saber fazer contas, reconhecer números e operações, mas ainda assim não conseguir aplicar esse conhecimento de forma funcional no nosso cotidiano.

E é justamente aí que está a importância de falarmos sobre Letramento Matemático.
Isso significa que, mais do que apenas saber “fazer contas”, queremos que nossas crianças aprendam a pensar matematicamente, resolver problemas, raciocinar, comunicar ideias, fazer escolhas conscientes, e tudo isso de maneira conectada à vida real.

Mas será que a Matemática começa mesmo só na escola? A resposta é: não.

Desde muito cedo, antes mesmo de pisar numa sala de aula pela primeira vez, as crianças já estão em contato com o universo matemático. Isso acontece quando, ao brincar, observam sequências de cores e formas; quando escutam uma cantiga com números; quando reparam nos preços no supermercado ou nos números de seus calçados; quando observam as horas no relógio ou o valor do pão na padaria. Em cada uma dessas situações, elas estão vivenciando a Matemática em seu contexto social, mesmo que ainda não compreendam os termos técnicos ou os símbolos com precisão.

Essa vivência cotidiana dá origem a uma bagagem rica, que a criança traz consigo ao entrar na escola. Uma bagagem feita de experiências concretas, significativas e cheias de sentido. E é papel da escola, junto com a família, acolher esse saber prévio, escutando atentamente as percepções das crianças, valorizando suas hipóteses, seus modos de pensar e suas formas de se relacionar com o mundo.

Alfabetizar e letrar matematicamente, então, não significa apenas apresentar números, sinais e operações. Significa dar sentido a esses elementos dentro de um contexto de vida. Significa mostrar que a Matemática está por toda parte, e que compreendê-la é uma forma de se posicionar no mundo com mais autonomia, criticidade e criatividade.

E para que isso aconteça, é essencial que, especialmente na fase de alfabetização, as crianças tenham acesso a diferentes tipos de textos, materiais e vivências que favoreçam esse letramento matemático.

Podemos, por exemplo, ler e oferecer às crianças textos que, de forma natural, envolvam noções matemáticas: receitas culinárias, regras de jogos, manuais de instrução, bulas, panfletos de supermercado, etiquetas de roupas e embalagens. Em todos esses textos, aparecem informações sobre quantidade, medida, ordem, peso, valor, tempo, forma, entre outras. Ler e interpretar esses textos é, sim, uma forma concreta de se alfabetizar matematicamente.

Além dos textos, a exploração de materiais concretos também contribui para esse desenvolvimento. Objetos de diferentes tamanhos, pesos, texturas e formatos, calculadoras, réguas, relógios, calendários e até mesmo documentos da casa, como contas de energia ou cartões bancários, podem, e devem, ser apresentados às crianças como parte da vida real que elas estão começando a compreender.

E tudo isso pode e precisa acontecer também fora da escola. Em um passeio ao mercado, por exemplo, podemos conversar com a criança sobre os preços, as promoções, os pesos dos alimentos, a quantidade de itens nas prateleiras, o troco recebido na compra. Numa visita ao parque ou a uma exposição de arte, podemos observar as formas geométricas dos brinquedos, das esculturas, da arquitetura ao redor, ou ainda conversar sobre valores de entrada, horários de funcionamento, número de visitantes permitidos, quantidade de pessoas da fila. Todas essas são oportunidades ricas para ampliar o olhar da criança sobre o mundo e reforçar o sentido da Matemática em sua vida.

Nas conversas com adultos, é importante que a criança perceba como os números também fazem parte da comunicação: o horário em que algo aconteceu, a duração de uma tarefa, o número de um documento, o código de um celular, a senha de um aplicativo, tudo isso está ali, presente, inserido na nossa linguagem e no nosso cotidiano.

Dessa forma, construímos a certeza de que a Matemática é muito mais do que um conteúdo escolar. Ela é uma linguagem. Uma ferramenta. Um modo de pensar. E o letramento matemático é o caminho para fazer essa linguagem ganhar sentido e função na vida da criança.

A frase “o que aprendi na escola, usei só na escola” precisa ser, cada vez mais, superada. Queremos que nossas crianças reconheçam o valor do que aprendem. Que saibam aplicar esse conhecimento na prática. Que se sintam capazes de resolver problemas, fazer escolhas, argumentar, comunicar ideias e entender o mundo ao seu redor, com lógica, com criatividade e com sensibilidade.

Por isso, alfabetizar e letrar, em todas as áreas do saber, não são etapas separadas. São processos que se entrelaçam e se completam. E quando compreendemos que isso também vale para a Matemática, damos um passo importante na construção de uma educação mais significativa, mais crítica e mais conectada com a realidade das nossas crianças.

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