A importância do diálogo na construção da autonomia
texto de Danilo Marinho, Assistente de Orientação Educacional do Colégio Carbonell
Durante o ciclo escolar, os estudantes estão em um processo de evolução constante, tanto da vida acadêmica quanto da vida social, e é no espaço escolar que ele terá contato social com outras pessoas, seus colegas, professores e profissionais que estão presentes na rotina escolar. E é na interação com o outro que o aprendizado se desenvolve.
A boa comunicação é um dos pilares para uma convivência saudável e respeitosa, o diálogo proporciona isso, para o filósofo Judeu Austríaco Martin Buber, a relação dialógica favorece o desenvolvimento da autonomia do sujeito, no caso, da criança e do adolescente, pois são nesses momentos que a individualidade é reconhecida.
Em um ambiente escolar, os conflitos são inevitáveis e representam oportunidades para o desenvolvimento, o estudante se vê em situações que a sua comunicação precisa ser cada vez mais assertiva, para que ele consiga expressar os seus pensamentos e opiniões.
A escuta faz parte essencial do diálogo, pois o outro também precisa ser ouvido para que suas ideias sejam expressadas. É a partir dessa prática mútua que a comunicação se torna efetiva, respeitosa e compreensível para todos os envolvidos. A autonomia, por sua vez, não surge de forma isolada; ela é construída a partir de momentos em que o estudante sente que sua voz e suas ações têm poder de decisão.
Nós, adultos, possuímos um papel fundamental no cultivo dessa autonomia. Nas interações com os mais jovens, temos a oportunidade de construir um canal de comunicação efetivo, onde escutamos e somos escutados, permitindo que ambos expressem suas opiniões e sentimentos.
Quando as crianças percebem que sua voz é importante e que é ouvida pelos demais, elas desenvolvem sua habilidade social de comunicação. Isso lhes confere mais autonomia para resolver conflitos, pois elas entendem que, para serem ouvidas, é preciso também ouvir o outro.
Esse processo de escuta ativa e diálogo genuíno é a base para que a criança desenvolva a confiança necessária para exercer sua autonomia. Quando a voz de um jovem é recebida com atenção e respeito, ele compreende que suas ideias são válidas e que ele é um participante ativo na construção das soluções. Isso vai muito além da resolução de conflitos imediatos; trata-se da construção da autoestima e de um senso de pertencimento – elementos primordiais e que são alinhados aos valores do colégio – para que o estudante se sinta seguro o suficiente para tomar decisões, expressar-se e lidar com os desafios da vida contemporânea.
A autonomia conquistada através do diálogo e da resolução de conflitos não se limita às interações sociais. Ela se reflete diretamente na vida acadêmica e no desenvolvimento pessoal do estudante. O jovem que aprende a ouvir, a dialogar e a negociar se torna mais engajado em sala de aula, mais capaz de trabalhar em equipe e mais preparado para enfrentar desafios complexos. Essas habilidades, cultivadas no ambiente escolar, são a base para o pensamento crítico e a criatividade, capacitando-o a se tornar um indivíduo que não apenas aceita informações, mas as questiona e as transforma.
O diálogo é uma ferramenta pedagógica e social que transforma o aprendizado em uma jornada de descoberta e autoconstrução. Ele nos convida a criar um espaço onde a autonomia floresce, como observou Paulo Freire em sua obra “Pedagogia da Autonomia“, “ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para a sua própria produção ou a sua construção”. Ao promover o diálogo, a escuta e a participação ativa, estamos cultivando uma geração de indivíduos que não apenas se comunicam de forma eficaz, mas que têm a capacidade e a confiança para construir seus próprios caminhos.
Referências bibliográficas:
BUBER, Martin. Eu e Tu. Tradução de Newton Aquiles Von Zuben. 10. ed. São Paulo: Centauro, 2001.
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996.