Errei, e agora?
texto de Letícia Arakaki, Orientadora Educacional do Colégio Carbonell
Errar faz parte da vida. Seja na escola, no trabalho ou em situações cotidianas. No entanto, lidar com ele nem sempre é fácil; afinal, ninguém gosta de errar, não é mesmo? Quando percebemos que erramos, surgem muitas perguntas: “Errei mesmo?”, “E agora, o que fazer?”, “Como corrigir?”. Vamos refletir sobre como enfrentar essas situações com responsabilidade e transformar o erro em uma oportunidade de crescimento.
Admitir que erramos pode ser desconfortável, mas é um dos passos mais importantes para o aprendizado. No ambiente escolar, por exemplo, um estudante que reconhece ter agido de maneira inadequada com um colega ou que não jogou fora ou escondeu no fundo da mochila aquela prova com uma nota baixa, além de assumir a responsabilidade pelos próprios atos, demonstra integridade e abre caminho para reparações e melhorias.
Algumas perguntas podem nos ajudar na busca por estratégias e análise do erro:
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- O que exatamente deu errado?
- O que eu poderia ter feito diferente?
- Há algo que posso fazer para corrigir ou reparar o impacto causado?
No livro “O Código do Talento“, Daniel Coyle, depois de viajar pelo mundo afora em busca de uma explicação para o talento, nos traz o relato e análises de pessoas consideradas talentosas nos esportes, nos negócios, nas artes e tantas outras áreas em que habilidades específicas são evidentes em suas práticas. Um dos pontos em comum nessas pessoas consideradas talentosas é a importância de identificar e corrigir erros como parte fundamental do sucesso.
Ele menciona que enxadristas de elite não apenas jogam partidas aleatórias, mas se dedicam a estudar movimentos específicos, analisar jogos passados (seus próprios e de outros mestres), identificar padrões e corrigir erros. Esse processo exige concentração extrema e repetição com foco em detalhes específicos. Coyle destaca que esse tipo de prática ativa áreas do cérebro responsáveis pela construção de conexões neurais fortes e duradouras.
Para Jean Piaget, importante estudioso da psicologia e da pedagogia, as crianças aprendem por meio da experimentação ativa, e os erros são naturais nesse processo. Quando uma criança comete um erro, ela é desafiada a revisar seu entendimento. Isso está diretamente relacionado aos conceitos de assimilação e acomodação propostos por ele.
A assimilação ocorre quando a criança reconhece uma informação de acordo com um aprendizado já estabelecido, enquanto a acomodação acontece quando a criança não reconhece uma informação e precisa aprender algo novo, incorporando novas informações. Nesse processo, o erro desempenha um papel fundamental para que novos aprendizados aconteçam, possibilitando novas conexões e ampliando ainda mais o conhecimento sobre aquele assunto.
Dei o meu melhor?
Uma pergunta fundamental ao lidar com o erro é: “Dei o meu melhor?”. Refletir sobre isso ajuda a identificar se o erro foi resultado de um esforço que não deu certo ou de uma falta de dedicação. Quando damos o melhor de nós e erramos, o aprendizado pode ser mais profundo e menos doloroso, pois sabemos que tentamos com sinceridade. Por outro lado, quando reconhecemos que não nos esforçamos o suficiente, é uma oportunidade para reajustar o comportamento e evitar repetições, tanto nos estudos, quanto nos relacionamentos.
Por que é tão difícil admitir o erro?
Muitas vezes, a resposta está na maneira como os erros são tratados. Punições severas, medo de exposições e julgamentos podem desencorajar a honestidade e ensinar as pessoas a esconderem seus deslizes. É fundamental criar ambientes onde o erro seja visto como uma oportunidade de aprendizado, e não como motivo de vergonha.
É preciso entender que não podemos evitar as consequências de um erro, elas existem e também são muito importantes para o aprendizado, porém dialogar e refletir sobre a situação ajuda a pessoa a enfrentar o desafio e traçar novos caminhos. Quando o erro é encarado de forma construtiva, o aprendizado é duradouro.
Errar é inevitável, mas o que fazemos após o erro é o que realmente importa. Assumir a responsabilidade, refletir sobre nossas ações, e buscar corrigir os deslizes nos tornam mais resilientes e preparados para os desafios da vida.
Na próxima vez que errar, lembre-se: reconhecer o erro é um ato de coragem, e aprender com ele é o primeiro passo para o sucesso.
Referências bibliográficas:
COYLE, Daniel. O código do talento: grandes, pequenos e surpreendentes segredos do talento. 1. ed. Rio de Janeiro: Sextante, 2010.
PIAGET, Jean. O juízo moral na criança. 4. ed. São Paulo: Summus, 1994.