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sexta-feira, 03/10/2025.
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💑 Mãe de adolescentes, Raquel Favatto escreve no blog sobre essa fase de transição

Adolescência: compreendendo essa fase de transição
texto de Raquel Favatto, mãe de dois adolescentes e Secretária Escolar do Colégio Carbonell

Com a certeza de quem está convivendo com essa ebulição em dose dupla diariamente, sem medo de errar, afirmo que a adolescência é uma das fases mais complexas e significativas do desenvolvimento humano e a mais desafiadora também. Noites sem dormir amamentando o bebê? Fichinha.

Muito além das transformações físicas visíveis, essa etapa é marcada por mudanças profundas no jeito de pensar, sentir e de se relacionar. De um dia para o outro não reconhecemos mais aquele que colocamos no mundo. O cérebro do adolescente está em plena reestruturação — uma verdadeira obra em andamento. É um período de reorganização cerebral intensa, que impacta diretamente a forma como o adolescente aprende e responde aos desafios do cotidiano.

Estudos da neurociência mostram que o cérebro humano continua em desenvolvimento até, em média, os 25 anos de idade. Durante a adolescência, regiões como o córtex pré-frontal — responsável por funções como planejamento, controle dos impulsos, tomada de decisões e empatia — ainda estão em amadurecimento. Isso explica, por exemplo, a impulsividade, as oscilações de humor e a busca por novidades tão características desta fase.

Ao mesmo tempo, o sistema límbico, responsável pelas emoções e pelo prazer, está altamente ativo, fazendo uma verdadeira rave dentro deles. Ou seja, o adolescente sente tudo de forma muito mais intensa, mas ainda não possui todos os recursos cognitivos para regular suas emoções ou prever as consequências de seus atos. Compreender essa base neurobiológica nos ajuda a ter mais empatia diante de certos comportamentos e reações e minimamente nos dá pistas de como agir, entendendo que o enfrentamento, de longe, deixa de ser um bom caminho.

Na escola, esse cenário se manifesta de diversas formas: dificuldade de concentração, necessidade de pertencimento ao grupo, questionamento das regras, variações no rendimento escolar, entre outros. É por isso que o espaço escolar precisa ir além da transmissão de conteúdos e se consolidar como um ambiente de escuta, segurança emocional, construção de confiança e desenvolvimento integral.

Cabe à escola oferecer estrutura e afeto: limites claros, mas com diálogo; exigência com compreensão; rotina com espaço para expressão. É na convivência, no conflito mediado e na possibilidade de errar e recomeçar que o adolescente vai construindo sua identidade.
Já à família, cabe o papel de manter o vínculo afetivo, mesmo diante do distanciamento típico desta etapa. Demonstrar interesse genuíno, escutar sem julgamento e manter uma presença constante, mesmo que mais discreta, são atitudes que fazem diferença no fortalecimento emocional dos adolescentes.

Mas é importante reconhecer: ser pai ou mãe de um adolescente não é tarefa simples: envolve viver o luto simbólico do filho pequeno que adorava a companhia dos pais e agora busca silêncio, autonomia e portas fechadas. Envolve aceitar que aquele abraço espontâneo, os desenhos carinhosos e os pedidos de colo vão dando lugar ao olhar questionador, às respostas curtas e ríspidas e à sede por independência. Esse processo é doloroso, mas significa apenas que estamos diante de um novo ciclo que também traz aprendizado e afeto em outros formatos. Para florescer, a árvore perde parte de suas folhas.

E, no fundo, eles não precisam de pais perfeitos ou de respostas prontas — precisam de adultos que estejam dispostos a ficar, a escutar, a amar e a aprender junto porque por muitas vezes simplesmente não saberemos o que fazer.

Por outro lado, o adolescente também enfrenta seus próprios lutos e desafios. Lidar com o corpo que muda rapidamente, com a insegurança diante da autoimagem, com a ansiedade que muitas vezes chega sem nome e com o peso de ter que deixar de ser criança sem ainda saber como ser adulto. Tudo é novidade, tudo é intenso, tudo é urgente.

Em um mundo em constante transformação, talvez o nosso maior desafio — e também nosso maior presente — seja esse: enxergar e entender a adolescência como um tempo de travessia, de contemplar o desabrochar das flores, e não de crise ou campo de batalha. Isso nos permite ressignificar nossa relação com eles, cultivando vínculos, sendo e oferecendo referências e acolhendo as incertezas desse caminho. Afinal, é com presença, escuta e confiança que ajudamos nossos adolescentes a se tornarem adultos conscientes, éticos e emocionalmente preparados para a vida.

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